Este manifesto não é um meio para discutir a cultura, a lei, a política e valores de uma civilização. Ainda que diante de inúmeros avanços tecnológicos, da evolução que se radia diante de nossos olhos, nos deparemos com o ser humano mais pobre, pobre em questão de humanidade.
Como dizia a saudosa Oriana Fallaci: "Não me agrada dizer que Tróia está a arder (...). Dizer isto equivale a dizer que as Cassandras falam realmente ao vento, que, apesar dos seus gritos de dor, os cegos continuam cegos, os surdos permanecem surdos, as consciências despertas adormecem rapidamente..."
O mundo volta o seu olhar para a defesa da vida. Em pleno século XXI, o mundo pára para se posicionar face a questões que datam mais de 2000 anos atrás.
A barbárie de outrora presente ainda hoje, a ferocidade escancarada de escarnecimento da carne. A punição desmedida que utiliza pena de morte por apedrejamento.
Trata-se de um atraso horrível e indecoroso, que para alguns parece banal! Como podemos nos deparar com situações lastimáveis em qualquer que seja o lugar? O que nos resta fazer além de estranhar e indagar sobre os motivos, quais os bons motivos para que um fato vigente seja interpretado e legitimado que explique tamanha crueldade? Haveria explicações para a falta de lucidez, descaso com a humanidade de modo primitivo, feroz e arcaico?
Quem necessita de um "armagedom", se nos basta um punhado de tempo para notar que vivemos já no inferno, em que transvestido de satanás esta o próprio homem. Que direito de vida resta aos homens, se outros homens ditam o momento de sua morte? Quanta ferocidade descabida o homem ainda pode usar contra o seu semelhante?
Vidas primitivas se extinguiram pela natureza, vidas presentes estão sujeitas a serem extintas de maneira cruel.
Falamos antes de Sakineh, as nossas vozes erguem-se agora por dois jovens, (Ayub, de 20 anos, e Mosleh, de 21), escolheram amarem-se apesar de serem do mesmo sexo, amanhã tudo indica que serão apedrejados. Desta vez não houve, nem haverá petições, grandes notícias ou manifestações.
Poucos terão a coragem de se manifestar, mas a questão essencial mantém-se: barbárie versus humanidade.